quarta-feira, dezembro 20, 2006

Adeus a Sevilha...

Pronto, foram 7 meses mas acabou-se. Bem mais cedo que o previsto, por motivos que nada têm a ver com esta bela cidade (bons motivos aliás), vamos regressar à terrinha.
Sevilha e os giraldinos viveram uma história de amor, com uma ou outra incompreensão mútua. Mas foi uma experiência muito enriquecedora, que não nos sairá da memória tão depressa.
Por isso não é de estranhar que venham a aparecer mais um ou dois posts nostálgicos...

Natal sevilhano

Ao contrário do que o giraldino dizia aqui há uns tempos, o Natal aqui é coisa séria. Em primeiro lugar, jamon, jamon, jamon. Um autóctone disse um dia que a comida do Natal em Espanha era igual aos outros dias, só que com mais jamon e nós começamos a acreditar. Não há loja que não venda as célebres pernas de porco fumadas, com embrulho especial, que custam entre 50 e 500 euros. Depois há os mantecados, os polvorones e claro, em doses industriais, o turron, de todas as variedades imagináveis. Prateleiras e mais prateleiras cheias disto.
Depois há as luzes de Natal. Em quase todas as ruas com lojas (e creiam-me que há muitas) há luzinhas que acendem e apagam, que ao que parecem totalizam mais de um milhão nesta cidade. Há quem já faça contas ao efeito que isto tem sobre as alterações climáticas.
Compras, compras, compras. Se esta gente já é ultra-consumista nas outras épocas do ano, imaginem os leitores como será agora. Um desvario total. Lojas abertas até às tantas, até no Domingo (que aqui é um dia penosamente deserto), ruas tão cheias de gente que é impossível abrir caminho, tendas de artesãos, mantas de contrafacção, mercados improvisados, balcões só para embrulhos, pais natal a distribuir rebuçados, músicos de rua... Na televisão os anúncios a possíveis prendas ocupam intervalos de 20 minutos no meio dos filmes. Aqui ainda por cima há o Pai Natal e os Reis Magos e ambos dão presentes... E os giraldinos garantem: o consumismo de natal é contagioso. É só ver as montanhas de caixas e sacos com prendas que já acumulámos!
E os Beléns? Não há loja nem lojeca, igreja nem capela, ayuntamento nem instituição pública que não tenha o seu Belén. Até há um mercado que só vende peças para fazer o Belén! Filas e filas de pastores, ovelhas, moinhos, vacas, reis magos, manjedoiras, marias, josés, meninos, soldados romanos, camelos, casinhas, palhinhas... E os sevilhanos fazem bicha para visitar o Belén da catedral, do Corte Ingles, da Caja San Fernando... E o que é um Belén? Um presépio, claro.
Vai haver procissões de Natal, pois claro, e dia 6 a Cavalgada dos Reis Magos, que distribuem guloseimas pela assistência. Prevê-se que entre 24 de Dezembro e 6 de Janeiro seja só festança e comezainas. Como se isso nos surpreendesse...

Tivemos outra vez visitas


Itálica



A meia dúzia de quilómetros de Sevilha fica Itálica, as ruínas de uma antiga cidade romana, supostamente lugar de descanso para velhos soldados do Império reformados. Estivemos à espera da especialista para a visitar.
Para o olho não treinado dos giraldinos, é só um monte de pedras, de que se destaca um anfiteatro muito bem preservado e uns mosaicos bonitos (os que não foram roubados pela Lebrija).

O palácio da Condessa de Lebrija



Era uma das últimas atracções que nos faltava visitar. Hesitámos um pouco, por causa do preço mas acabámos por comprar bilhetes para a visita a ambos os pisos e não nos arrependemos. Numa das ruas comerciais do centro fica esta típica casa senhorial sevilhana, com pátio e arcadas. Já o conteúdo é que não é nada típico. A dita senhora condessa, que atravessou a metade do século XX, comprou o elegante edifício e recheou-o com uma ainda mais elegante colecção de móveis, mosaicos (roubados a Itálica), azulejos, livros, estuques, estátuas, colunas, peças arqueológicas, quadros, cerâmicas... Um delírio de decoração, mas que vale bem a visita.

O palácio ainda é propriedade privada da família, que o usa para serões e pequenas festas. Que pena têm os giraldinos de não serem aristocratas...

Tivemos visitas


Granada não é só património histórico...



.. também tem um importante centro de ciência, o Parque das Ciências. Espantosamente a um Domingo, estava cheio de gente e não apenas das habituais famílias com crianças. Parece que aqui a divulgação da ciência interessa a mais gente.

Para além das habituais exposições interactivas sobre fenómenos da física, iguais em todo o mundo, tem uma oferta muito diversificada e cativante. Uma exposição sobre ciência no Al-Aldalus, lamentavelmente sem catálogo. Um núcleo sobre ciências da natureza, com um espólio muito variado e os costumeiros alertas para a degradação do ambiente. Uma torre panorâmica de onde se vê a cidade. Um planetário (que os giraldinos não viram). Exposições temporárias, desta feita sobre o Titanic e a descobertas das vacinas (também passámos ao largo). Uma fabulosa estufa com borboletas. Jogos científicos ao ar livre. A recriação de um lagar de azeite, com demonstração do seu funcionamento por uma monitora.

Apesar das resistências iniciais do giraldino, acabou por ser uma manhã bem passada.

O outro património da humanidade de Granada



No monte em frente ao famoso Alhambra fica o não tão famoso Albaycin, também classificado pela Unesco. É um emaranhado de ruas estreitas, labirínticas, sinuosas, íngremes, uma floresta de casas caíadas de branco, com pequenos jardins, que se chamam Carmen. No topo há uma antiga mesquita (que os giraldinos não conseguiram descobrir), umas igrejas, umas pequenas praças, muitas lojas para turistas e um mirador de onde se obtém a melhor vista sobre o Alhambra. Também se consegue entrever o Sacromonte, com as famosas casas cuevas: buracos na rocha onde viviam gitanos e famílias pobres, hoje ocupados por museus e hippies sebentos.

As indicações sobre os caminhos a seguir não abundam, mas há um pequeno autocarro que faz uma viagem vertiginosa até à Baixa da cidade. Apesar dos assustadores cartazes a avisar dos assaltos e insegurança da zona, é uma visita a não perder.