domingo, setembro 24, 2006

Um fim de semana de outono



Sim, parece que por fim o Verão nos deixou em paz. Por aqui já chove, já está fresquito, já se pode disfrutar da cidade sem apanhar uma insolação. Por isso este foi um fim de semana banal, a recarregar baterias para novas passeatas, talvez na próxima semana.
Começámos o dito como de costume: tapas na sexta à noite. Mais uma experiência gastronómica memorável na Taberna Berrocal, aqui a dois passos de casa. Boi com beringela, bolinhas de batata e queijo, espinafres com creme e pimentos assados. A um preço ridículo, como sempre. Mas como 4 tapas para 2 giraldinos não matam totalmente a fome, tratamo-nos ainda com uns gelados na Fiorentina, também ao virar da esquina. Muito bons, a muito bom preço. Os sabores de pinhão, chá verde e creme de Sevilha (laranja, pois claro) recomenda-se.
No Sábado passámos a manhã no ginásio/piscina, a queimar calorias para arranjar espaço para uma nova ronda de tapas, desta feita na Casa Cuesta. Mais um ex-libris trianeiro, com uns azulejos belíssimos, uma atmosfera de café à moda antiga e umas tapas de apetite: solomillo al roquefort, espinacas com garbanzos, patatas aliñadas e uma posta de peixe com molho de tomate. É com certeza para repetir.
À tarde fomos de tiendas. É aqui um passatempo nacional (povo de consumistas), que enche as Calles Velazquez, Sierpes e Tetuan com um mar de gente bem pela noite dentro. E com meia dúzia de dezenas de euros se enche um saco de "prendas" (o vocábulo local para roupa). O fim da tarde foi de cine, com o videoclube que vem pelo cabo do telefone, e a noite de futebol, cortesia de la Sexta e da parentela de Paço de Arcos (via Skype).
Um Domingo tranquilo, com limpezas, o El País no sofá, e um filmezinho ao virar da esquina. Pois é, para além de um número razoável de bares de tapas, num raio de 100 metros temos também um centro comercial, um supermercado de razoáveis dimensões e, o mais pertinente aqui, um cinema tipo King, que passa cinema europeu e americano legendado. Uma raridade neste país de dobragens. E, ao contrário do de há duas semanas, este pode ter menos charme, mas pelo menos as butacas não têm cem anos nem pulgas...

Da memória histórica

É uma das polémicas do momento aqui no nosso país de acolhimento. Ao contrário do torrãozinho natal, onde uma revolução e os anos quentes que se lhe seguiram parecem ter resolvido a crise da adolescência da democracia, a "transição pacífica" aqui em Espanha deixou sequelas que agora têm de se resolver no divã do psicanalista.
Só agora, 30 anos depois, é que o governo PSOE (que governou mais de uma década nos idos de 80) resolveu abrir o armário e sacudir o pó aos esqueletos do franquismo. Com uma muito debatida e criticada Lei da Memória Histórica, pretende-se eliminar os últimos vestígios da ditadura e render homenagem às suas vítimas. Parece estranho, mas só agora é que se retiram as últimas estátuas de Franco e se começa a proceder à "limpeza" de placas, monumentos e nomes de ruas que evocam eventos ou figuras gradas do regime. O que fazer com o assustador Vale dos Caídos ainda está por se saber, mas pelo menos ficam proibidas as celebrações franquistas no local.
A dita lei abre a possibilidade dos herdeiros dos assassinados durante e depois da Guerra Civil receberem indemnizações, apoios para localizarem restos mortais inumados em valas comuns, oportunidades para reabilitar o bom nome dos familiares.
Porque, ao contrário dos "brandos costumes" desse lado da fronteira (sem esquecer no entanto a PIDE, o Tarrafal, a tortura e os assassinatos políticos), para além do morticínio expectável da Guerra Civil, o franquismo foi um regime bem mais duro e sanguinário. Centenas de milhares de fuzilados durante e logo a seguir à guerra, campos de concentração que duraram até aos anos 60, a pena de morte vigente e aplicada até aos anos 70 (está agora em cartaz um filme sobre Salvador Puig Antich, anarquista garroteado em 1974, aos 25 anos).
O que é estranho é a celeuma que esta lei está a provocar. Para a esquerda, não vai suficientemente longe. Para o PP, herdeiro directo do franquismo (coisa que também me causa grande estranheza, como é possível que um partido transite assim de regime), não há razão nenhuma para andar a destapar a caixa de Pandora, que as coisas estavam muito bem como estavam, que o que lá vai lá vai...
Mas a própria sociedade aparece dividida. Apesar de se ter passado quase um século, apareceram centenas de pessoas à procura dos locais de enterramento dos familiares, enquanto outros se opõem à retirada dos símbolos franquistas. Nos jornais apareceram obituários de resistentes republicanos que morreram há décadas, porque na altura era proibida a sua publicitação. Mas ao seu lado nas necrologias, familiares dos mortos franquistas fazem publicar anuncios semelhantes em homenagem às "vitimas dos vermelhos". A diferença é que estes tiveram 4 décadas para os celebrar.
À suivre...

quarta-feira, setembro 20, 2006

Albañiles e companhia limitada



A construção civil em Espanha é de rir à gargalhada. Se bem que o modelo de exploração imobiliária e de expansão do pato bravismo assuma uma feição muito semelhante ao lusitano (corrupção camarária e presença de presidentes de clubes de futebol incluídas), as vulgares obras comezinhas e de todos os dias estão muito próximas da caricatura risível do que em qualquer caso se deve fazer.
O nosso apartamento, por exemplo, era a estrear quando nós o ocupamos. Tinha só um ou outro problema que pensávamos se resolveria no dia seguinte:
1) a porta exterior não fechava não se podia trancar porque a respectiva ombreira era deslizante (veio cá um serralheiro que quase destruía a ombreira, o chão de mármore e a própria porta mas lá conseguiu que a chave desse as duas voltas na fechadura - talvez tenha de contratar outro para resolver a folga com que a porta ficou, mas isso é outra conversa);
2) a porta do pátio mal se conseguia abrir ou fechar porque roçava na pedra de mármore da soleira, mais uma vez a técnica da ombreira flutuante que não está fixa ao tijolo e reboco mas apenas fixa num cimento de cá qualidade que deve ter muito mais areia que a proporção certa,
(solução espanhola: levantar a ombreia com um calço e fixá-la com parafusos ao débil reboco, vamos ver quantos dias dura)
3) o lavatório não vedava porque havia um desencontro entre o ralo e o cano de esgoto;
4) o esquentador está montado sem suficiente extracção de gases de combustão,
5) a misturadora da cozinha tem as ligações trocadas, quente para frio e vice-versa;
6) o piso de mármore está parcialmente polido, esqueceram-se de algumas partes;
7) Um destes dias caiu a calha dos tubos do ar condicionado, ainda está encostado à parede à espera de paciência
Enfim... estes são só alguns dos problemas, a lista completa tornar-se-ia fastidiosa.
No outro dia fui à casa de banho do aeroporto e deparei com a seguinte obra de arte: ao instalarem um secador de mãos destruiram parte de uma parede, tendo caído uns generosos blocos de reboco e gesso. Solução: volta-se a colar os referidos blocos com generosas camadas de silicone.
Mas a melhor de todas (e que explica parte do descrito) é a forma como tratam o cimento: é feito em grandes quantidades, com mais areia do que a devida conta, e deixado à sua sorte na rua, por vezes de um dia para o outro. Na manhã seguinte devem molhá-lo, dar-lhe uma volta e entremeá-lo entre filas de tijolos sobrepostos. Não é de espantar que às vezes se desmoronem...

domingo, setembro 17, 2006

Domingo de passeio

No meio da extensíssima planície andaluza,














entre a Porta de Sevilha (que tem um Alcazar)














e a porta de Córdoba,














há uma vila branca,














de ruas estreitas, igrejas em abundância,



















praças simpáticas,














e casas apalaçadas.














Tem um bom museu arqueológico, um Parador com uma piscina apetitosa e uma igreja matriz com um pátio de mesquita. Chama-se Carmona e fica a 30 quilómetros aqui de Sevilha.

Esta é a irmã mais pequena da nossa


a Giraldilha de Carmona.

sábado, setembro 16, 2006

Boa comida 5


Mais uma excelente experiência gastronómica. Seguindo as recomendações de vários guias, aventurámos-nos no oeste selvagem (também conhecido por Alameda de Hércules, o que já deve ter sido uma aprazível praça desta cidade mas que agora está transformado num infernal estaleiro de obras) e fomos testar o Madraza. É pequenino, pelo que convém chegar cedo, mas não demasiado cedo porque não abre para jantar antes das 9... Horários espanhóis, já se sabe. A comida é uma delícia. As tapas são servidas em pratos normais e apesar de terem preço de tapa (entre 3 e 5 euros) têm a dimensão de uma meia dose. E no menu há muito por onde escolher, umas boas dezenas de tapas de carne, tapas de peixe, tapas vegetarianas, tapas de cozinha do mundo... Nós comemos um tenríssimo boi com molho de mostarda, uns apetitosos espargos gratinados, um subtil veado com ervas aromáticas e uma exótica pita com frango árabe e saímos de lá muitissimos satisfeitos.
Como a tal Alameda de Hércules é uma reconhecida zona nocturna, lá pensámos em tomar uma copa. Apesar de haver uns tantos bares interessantes, como o do Corto Maltese ou o Diablito, acabámos quase à porta de casa, no Merchants. Posso dizer que tem uma pequena esplanada muito simpática nestas amenas noites de Verão e uns Mojitos assaz refrescantes.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Skype, engenho e generosidade

Um dos problemas de se estar fora do país é sermos forçados a prescindir de alguns prazeres que só se podem fruir no torrão natal. Há uns meses atrás dizia que só ia ter saudades do peixe grelhado e do bravo de esmolfe. Agora sou forçado a acrescentar o visionamento de jogos do Sporting, em particular aqueles como o de ontem.
O que nos vale é o espírito de improvisação e generosidade dos que arranjam sempre uma alternativa para suprimir a distância. Ontem, o meu sogro deve ter-se tornado no primeiro broadcaster via Skype do planeta. Sintonizou o canal que transmitia o jogo no computador, orientou a web cam para o monitor e permitiu-me acompanhar o jogo em que meia dúzia de putos desassombrados, cheios de ganas de vencer na vida e bem orientados por quem os fez crescer derrotaram a milionária equipa milanesa.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Alatriste


Os giraldinos foram ao cinema pela primeira vez desde que cá estão. Um filme espanhol, está claro, que isto das dobragens não cabe na cabeça de ninguém. E foi também uma declaração política: ainda que a película em causa esteja em cena no multiplex da Warner que fica aqui a 5 minutos de casa, palmilhámos mais umas ruas para chegar ao Cine Cervantes, juntando-nos à intelligentsia urbana domingueira. É que o Cervantes é uma das últimas salas clássicas, de modelo cineteatro, com poltronas de veludo, balcões de camarotes, lustres, madeiras talhadas. Está um bocado decadente, a precisar de reparações e talvez até de uma desinfecção. Nem o som nem a imagem são muito bons, mas valeu a pena conhecer a sala.
O filme também mereceu a saída de casa. O argumento e a montagem têm algumas falhas, resultantes da tentativa de meter o Rossio (5 livros) na Rua da Betesga (um filme de 2 horas), mas o herói é apaixonante, os outros personagens bem compostos, o retrato de época meticuloso, a fotografia belíssima (abusando um bocadinho do efeito-quadro-de-Velazquez), as cenas de batalha emocionantes, a mensagem central bastante familiar: a decadência do(s) império(s) ibérico(s). Enfim, recomenda-se.

domingo, setembro 10, 2006

Para os amantes da arqueologia


Com uns milhares de anos de história, Sevilha só podia ser detentora de um belíssimo património arqueológico. Há aqui perto uma cidade romana que ao que parece é bastante monumental, mas estamos à espera de companhia interessada para a explorar. Mas o Museu Arqueológico já é um aperitivo de respeito. Tanto a secção de pré-história como a dedicada aos romanos e visigodos têm um acervo riquíssimo. Vasos, tesouros, mosaicos e estátuas do melhor que já vimos por essa Europa fora. A informação que os acompanha é de qualidade desigual, mas parece que o museu se está a modernizar gradualmente. Uma ideia muito engraçada são as caixinhas de cheiros, que dão ao visitante a oportunidade de saber a que cheirava um povoado neolítico, os perfumes fenícios ou o sabonete romano.

Um passeio pelo Maria Luísa




No último dia de férias das nossas visitas, proporcionámos-lhes um pic nic no aprazível parque Maria Luísa. Infelizmente o tempo não quis colaborar e estava um calorão dos demónios... Mostrámos-lhes a Praça de Espanha, pedalámos pelo parque numa carripana para quatro (aviso às próximas visitas: lamentamos mas isto não é para repetir, as nossas perninhas não aguentam!), comemos uns bocadillos preparados em casa, admirámos as cerâmicas decorativas do parque, visitámos os dois museus e acabámos a tarde na roda gigante (mais apropriadamente roda grandita mas não gigante) do Prado de San Sebastian. À noite pizzas no La Tagliatella e foi o fim de uma encalorada semana para as nossas hóspedes.

quinta-feira, setembro 07, 2006

Isla Magica (mas não muito)



De acordo com o que pensávamos ser os gostos e interesses da nossa visita de 11 anos, lá fomos ontem à Isla Magica, um parque de diversões que ocupa uma pequena porção do que foi há 14 anos a Expo92. Porém, a criança do grupo RECUSOU-SE a usufruir de qualquer uma das atracções e foram os giraldinos mais a sua amiga romena a fazer jus aos euros pagos à entrada. Carrossel de cadeirinhas, montanha russa aquática, descida em queda livre para a água, lá experimentámos umas quantas emoções fortes, devidamente testemunhadas pela pequena fotógrafa.
Agora a Isla de Mágica tem pouco. Templos aztecas de esferovite, barcos piratas de cartão, dois coelhos e dois papagaios numa jaula que anuncia aves de rapina, a pequena Andaluzia em modelos decrépitos, construída sobre um lago de águas residuais, numerosas e barulhentas famílias de andaluses (e portugueses) pouco educados... Não é para repetir.

segunda-feira, setembro 04, 2006

E aos jardins também



Mais uma visita ao Alcazar




Há sítios que merecem mais do que uma visita. E onde é obrigatório levar os nossos convidados. As boas notícias são que, graças ao nosso estatuto de residentes na capital hispaliana, temos entrada gratuita no lindo palácio mudejar. Não é que o palácio gótico seja de desprezar, mas são estes salões e pátios do palácio de D. Pedro que mais enchem o olho. Tectos, chão, paredes, portas, janelas, por todo o lado azulejos geométricos, madeiras trabalhadas, gessos moldados, ferro forjado, cores deslumbrantes, motivos repetidos regularmente até ao infinito. Só vendo, as fotografias não lhe fazem justiça.

domingo, setembro 03, 2006