Albañiles e companhia limitada
A construção civil em Espanha é de rir à gargalhada. Se bem que o modelo de exploração imobiliária e de expansão do pato bravismo assuma uma feição muito semelhante ao lusitano (corrupção camarária e presença de presidentes de clubes de futebol incluídas), as vulgares obras comezinhas e de todos os dias estão muito próximas da caricatura risível do que em qualquer caso se deve fazer.
O nosso apartamento, por exemplo, era a estrear quando nós o ocupamos. Tinha só um ou outro problema que pensávamos se resolveria no dia seguinte:
1) a porta exterior não fechava não se podia trancar porque a respectiva ombreira era deslizante (veio cá um serralheiro que quase destruía a ombreira, o chão de mármore e a própria porta mas lá conseguiu que a chave desse as duas voltas na fechadura - talvez tenha de contratar outro para resolver a folga com que a porta ficou, mas isso é outra conversa);
2) a porta do pátio mal se conseguia abrir ou fechar porque roçava na pedra de mármore da soleira, mais uma vez a técnica da ombreira flutuante que não está fixa ao tijolo e reboco mas apenas fixa num cimento de cá qualidade que deve ter muito mais areia que a proporção certa,
(solução espanhola: levantar a ombreia com um calço e fixá-la com parafusos ao débil reboco, vamos ver quantos dias dura)
3) o lavatório não vedava porque havia um desencontro entre o ralo e o cano de esgoto;
4) o esquentador está montado sem suficiente extracção de gases de combustão,
5) a misturadora da cozinha tem as ligações trocadas, quente para frio e vice-versa;
6) o piso de mármore está parcialmente polido, esqueceram-se de algumas partes;
7) Um destes dias caiu a calha dos tubos do ar condicionado, ainda está encostado à parede à espera de paciência
Enfim... estes são só alguns dos problemas, a lista completa tornar-se-ia fastidiosa.
No outro dia fui à casa de banho do aeroporto e deparei com a seguinte obra de arte: ao instalarem um secador de mãos destruiram parte de uma parede, tendo caído uns generosos blocos de reboco e gesso. Solução: volta-se a colar os referidos blocos com generosas camadas de silicone.
Mas a melhor de todas (e que explica parte do descrito) é a forma como tratam o cimento: é feito em grandes quantidades, com mais areia do que a devida conta, e deixado à sua sorte na rua, por vezes de um dia para o outro. Na manhã seguinte devem molhá-lo, dar-lhe uma volta e entremeá-lo entre filas de tijolos sobrepostos. Não é de espantar que às vezes se desmoronem...
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