sábado, junho 16, 2007

E no caminho de volta, uma epifania


A uma vintena de quilometros de Sevilha, visível da estrada, ergue-se uma maravilha feita pela mão humana. Uma bola de luz prateada, suspensa no ar, frente a uma torre. Podia ser uma obra de arte contemporânea mas não é. É uma estrutura de captação de energia solar, composta por uns milhares de painéis fotovoltaicos orientados para a dita torre. É um espectáculo encantatório, que para os giraldinos simboliza o farol que nos há de trazer de volta a Sevilha, um dia destes...

Mas também há coisas que estão diferentes




... como o arranjo da Avenida de la Constituicion e da Calle San Fernando (com a linha de eléctrico, as árvores, os candeeiros), a pavimentação da Alameda de Hercules (esta gente não gosta nada de jardins, não há sequer um canteiro onde plantar flores ou arbustros), a abertura da Fnac e de uma dependência dos gelados Rayas na Reyes Catolicos, o fecho da fabulosa casa de tapas Giralda, a impossibilidade de comprar roupa decente na Celop e lojas afins...

Há coisas que estão na mesma






... como a altaneira Giralda, as ruas sinuosas de Santa Cruz, as lojas fechadas ao Domingo, as multidões nas ruas à noite, os penteados ridículos dos rapazes, os vendedores de panuelos nos semáforos (incluindo o nosso favorito, que tem uma série de disfarces diferentes), a cera nos pavimentos depois das procissões, as saborosas espinacas con garbanzos da Casa Cuesta, as santinhas choronas nas igrejas, até o malfadado IPTS (que só à distância de meia dúzia de meses é que tem direito a aparecer neste blogue)...

Regresso

As saudades falaram mais alto e os giraldinos voltaram a Sevilha. Com o pretexto de entregar a declaração de impostos, fizeram os 500 km de volta a casa. A cidade de facto ficou-nos no sangue e ao que parece vamos ter de fazer isto mais vezes...

Para tal tivemos de descobrir um poiso onde assentar, visto que já não somos residentes. Escolhemos o Espacio Azahar, bem no centro, mesmo à vista do El Corte Ingles. Ao que parece tem uma série de quartos interiores, sem janela, mas nós tivemos sorte. Por um preço módico temos um quartinho simpático, uma casa de banho asseada, uma decoração art nouveau agradável, um ecran de plasma com os 6 canais espanhois, uma ligação wifi (que não funcionou...), champoo e sabonete e coisas afins. No R/C há um café onde tomar o pequeno almoço e no terraço há um bar exótico, com um jacuzzi com vista para a Giralda. O que mais de pode pedir?

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Adeus a Sevilha...

Pronto, foram 7 meses mas acabou-se. Bem mais cedo que o previsto, por motivos que nada têm a ver com esta bela cidade (bons motivos aliás), vamos regressar à terrinha.
Sevilha e os giraldinos viveram uma história de amor, com uma ou outra incompreensão mútua. Mas foi uma experiência muito enriquecedora, que não nos sairá da memória tão depressa.
Por isso não é de estranhar que venham a aparecer mais um ou dois posts nostálgicos...

Natal sevilhano

Ao contrário do que o giraldino dizia aqui há uns tempos, o Natal aqui é coisa séria. Em primeiro lugar, jamon, jamon, jamon. Um autóctone disse um dia que a comida do Natal em Espanha era igual aos outros dias, só que com mais jamon e nós começamos a acreditar. Não há loja que não venda as célebres pernas de porco fumadas, com embrulho especial, que custam entre 50 e 500 euros. Depois há os mantecados, os polvorones e claro, em doses industriais, o turron, de todas as variedades imagináveis. Prateleiras e mais prateleiras cheias disto.
Depois há as luzes de Natal. Em quase todas as ruas com lojas (e creiam-me que há muitas) há luzinhas que acendem e apagam, que ao que parecem totalizam mais de um milhão nesta cidade. Há quem já faça contas ao efeito que isto tem sobre as alterações climáticas.
Compras, compras, compras. Se esta gente já é ultra-consumista nas outras épocas do ano, imaginem os leitores como será agora. Um desvario total. Lojas abertas até às tantas, até no Domingo (que aqui é um dia penosamente deserto), ruas tão cheias de gente que é impossível abrir caminho, tendas de artesãos, mantas de contrafacção, mercados improvisados, balcões só para embrulhos, pais natal a distribuir rebuçados, músicos de rua... Na televisão os anúncios a possíveis prendas ocupam intervalos de 20 minutos no meio dos filmes. Aqui ainda por cima há o Pai Natal e os Reis Magos e ambos dão presentes... E os giraldinos garantem: o consumismo de natal é contagioso. É só ver as montanhas de caixas e sacos com prendas que já acumulámos!
E os Beléns? Não há loja nem lojeca, igreja nem capela, ayuntamento nem instituição pública que não tenha o seu Belén. Até há um mercado que só vende peças para fazer o Belén! Filas e filas de pastores, ovelhas, moinhos, vacas, reis magos, manjedoiras, marias, josés, meninos, soldados romanos, camelos, casinhas, palhinhas... E os sevilhanos fazem bicha para visitar o Belén da catedral, do Corte Ingles, da Caja San Fernando... E o que é um Belén? Um presépio, claro.
Vai haver procissões de Natal, pois claro, e dia 6 a Cavalgada dos Reis Magos, que distribuem guloseimas pela assistência. Prevê-se que entre 24 de Dezembro e 6 de Janeiro seja só festança e comezainas. Como se isso nos surpreendesse...

Tivemos outra vez visitas


Itálica



A meia dúzia de quilómetros de Sevilha fica Itálica, as ruínas de uma antiga cidade romana, supostamente lugar de descanso para velhos soldados do Império reformados. Estivemos à espera da especialista para a visitar.
Para o olho não treinado dos giraldinos, é só um monte de pedras, de que se destaca um anfiteatro muito bem preservado e uns mosaicos bonitos (os que não foram roubados pela Lebrija).

O palácio da Condessa de Lebrija



Era uma das últimas atracções que nos faltava visitar. Hesitámos um pouco, por causa do preço mas acabámos por comprar bilhetes para a visita a ambos os pisos e não nos arrependemos. Numa das ruas comerciais do centro fica esta típica casa senhorial sevilhana, com pátio e arcadas. Já o conteúdo é que não é nada típico. A dita senhora condessa, que atravessou a metade do século XX, comprou o elegante edifício e recheou-o com uma ainda mais elegante colecção de móveis, mosaicos (roubados a Itálica), azulejos, livros, estuques, estátuas, colunas, peças arqueológicas, quadros, cerâmicas... Um delírio de decoração, mas que vale bem a visita.

O palácio ainda é propriedade privada da família, que o usa para serões e pequenas festas. Que pena têm os giraldinos de não serem aristocratas...

Tivemos visitas


Granada não é só património histórico...



.. também tem um importante centro de ciência, o Parque das Ciências. Espantosamente a um Domingo, estava cheio de gente e não apenas das habituais famílias com crianças. Parece que aqui a divulgação da ciência interessa a mais gente.

Para além das habituais exposições interactivas sobre fenómenos da física, iguais em todo o mundo, tem uma oferta muito diversificada e cativante. Uma exposição sobre ciência no Al-Aldalus, lamentavelmente sem catálogo. Um núcleo sobre ciências da natureza, com um espólio muito variado e os costumeiros alertas para a degradação do ambiente. Uma torre panorâmica de onde se vê a cidade. Um planetário (que os giraldinos não viram). Exposições temporárias, desta feita sobre o Titanic e a descobertas das vacinas (também passámos ao largo). Uma fabulosa estufa com borboletas. Jogos científicos ao ar livre. A recriação de um lagar de azeite, com demonstração do seu funcionamento por uma monitora.

Apesar das resistências iniciais do giraldino, acabou por ser uma manhã bem passada.

O outro património da humanidade de Granada



No monte em frente ao famoso Alhambra fica o não tão famoso Albaycin, também classificado pela Unesco. É um emaranhado de ruas estreitas, labirínticas, sinuosas, íngremes, uma floresta de casas caíadas de branco, com pequenos jardins, que se chamam Carmen. No topo há uma antiga mesquita (que os giraldinos não conseguiram descobrir), umas igrejas, umas pequenas praças, muitas lojas para turistas e um mirador de onde se obtém a melhor vista sobre o Alhambra. Também se consegue entrever o Sacromonte, com as famosas casas cuevas: buracos na rocha onde viviam gitanos e famílias pobres, hoje ocupados por museus e hippies sebentos.

As indicações sobre os caminhos a seguir não abundam, mas há um pequeno autocarro que faz uma viagem vertiginosa até à Baixa da cidade. Apesar dos assustadores cartazes a avisar dos assaltos e insegurança da zona, é uma visita a não perder.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Finalmente o Alhambra

Temos andado a encanar a perna à rã para não falar logo do Alhambra. Claro que de Granada é o que salta logo à ideia. E com razão. Classificado como património da humanidade, recebe mais de 6 mil visitantes por dia e os bilhetes têm (quase) sempre de se comprar com antecedência. Ocupa toda uma colina sobranceira à cidade, rodeado por um belíssimo bosque, e leva no mínimo uma tarde inteira para ser visitado.


Agora uma coisa tem de se admitir: muito do que se vê é francamente banal. A Alcazaba não passa de um castelo em semi-ruína cujo único interesse é a vista sobre a cidade.

Os jardins da Generalife são apenas isso mesmo: jardins bonitinhos e pitorescos, com jogos de água e buxo.

O palácio de Carlos V apenas se distingue por ser quadrado por fora e redondo por dentro, como uma praça de touros.

Já os Palácios Nazari, isso sim, são magníficos, fora deste mundo, inolvidáveis. Merecem a viagem e muito mais. São poemas feitos arquitectura, renda delicada transformada em mármore e estuque, geometria policromática convertida em azulejos. Salas, pátios, miradouros, recantos, numa sucessão estonteante. Não podia ser mais bonito.

terça-feira, novembro 28, 2006

tubo + tapa


Para que não sejam só referências pouco simpáticas vimos agora assinalar como Granada (e as suas gentes) nos surpreenderam agradavelmente. Há uma inesperada tradição granadina de se servir uma tapa da casa (gratuita) a acompanhar a bebida solicitada. Quer seja um copo de vinho, uma cerveja (em Granada a uma imperial ou fino chama-se tubo) ou até um modesto refrigerante há sempre uma tapa para acompanhar. E não pensem que se ficam por um mísero prato de tremoços ou uns quantos amendoins a luzir no prato. É uma tapa generosa que não fica a dever nada a uma qualquer tapa solicitada como habitualmente.
Num dos bares de tapas que frequentámos até fomos visitados pelo cozinheiro a dar-nos a provar a sua mais recente criação . Visitem Granada e surpreendam-se desta forma. Até mesmo quando terminada a refeição vos chega à mesa uma última tapa oferecida pela casa.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Primeiro as coisas más

Sim, fomos de fim de semana a Granada. E teve aspectos muito bons. Mas os giraldinos também têm razões de queixa e querem ventilar primeiro o fel, antes de de se desfazerem em elogios. Primeiro a viagem é longa e cansativa. O comboio leva três horas a atravessar a planura andaluza e sim, é bonito, mas às escuras (muito cedo de manhã ou muito tarde de tarde) não se vê nada. É impossível ler porque o comboio treme por todos os lados. Há um cheiro enjoativo a plástico e metal. Não há carruagem bar, que sempre dá para entreter. E ainda por cima é caro...
Depois também Granada foi afectada pela febre das obras (cheira-me a fundos estruturais), as avenidas principais estão intransitáveis, leva-se mais de meia hora a chegar ao centro a partir da estação de comboios, negociando um difícil caminho entre buracos, terra batida (ou lama), trémulos passadiços de madeira ou metal, lajes escorregadias. Mal se consegue apreciar os belíssimos prédios arte nova das avenidas (mesclados com uns horríveis mamarrachos de betão).
Para quem está habituado à horizontalidade de Sevilha, Granada é uma variação hostil. Subidas agrestes, descidas vertiginosas, pisos irregulares, de seixos pontiagudos, ameaçam a todo o momento a integridade física do caminhante. Mas de quem temos realmente pena é dos habitantes, que têm de fazer estes caminhos com os sacos das compras...
A rede de transportes públicos até é razoável, melhor que a de Sevilha. Até há uns mini-autocarros que servem as íngremes colinas do Alhambra e do Albaycin. Mas graças às obras há paragens suprimidas, não substituídas, que deixam ao utente a alternativa de sair numa paragem ou a 600 metros, na seguinte. Pouco amigável.
Mas para uma cidade com tanto património classificado como "da humanidade", é inadmissível o tratamento dado ao turista. Não há praticamente setas que indiquem a direcção dos principais monumentos. Não é dado qualquer mapa ou folheto aos visitantes do Alhambra. Os museus têm horários esdrúxulos: fecham ao início da tarde de Sábado sem qualquer justificação. A entrada para a catedral está oculta, uma pequena porta ao fundo de um minúsculo pátio gradeado, que nos levou uns 20 minutos a encontrar, dando sucessivas voltas ao edifício. Para entrar nas duas principais atracções da cidade, o Alhambra e o Parque das Ciências, há bichas intermináveis, mesmo para quem tem bilhetes comprados antecipadamente.
Finalmente, os hippies. Nenhum guia os menciona, mas Granada está realmente pejada deles. Grupos de jovens (e não tão jovens assim) andrajosos, acompanhados de matilhas de cães rafeiros, deambulam pelas ruas, vendem artesanato rasca, fumam charros em espaços públicos, ocupam o principal miradouro, dão um geral mau aspecto à cidade. Ao que parece muitas localidades dos montes da província estão ocupados por estas tribos alternativas. Talvez não haja aqui relação de causa-efeito, mas há uma série de cartazes pintados à mão no bairro de Albaycin que denunciam os "atracos" violentos e a insegurança generalizada.
E pronto, este post matiza um bocado os encómios à cidade que se vão seguir. Mas a vida é mesmo assim.

domingo, novembro 26, 2006

Teaser


E onde é que estivemos nós este fim de semana?

sexta-feira, novembro 24, 2006

El niño


Aqui não é nome de fenómeno meteorológico mas sim marca de roupa para putos radicais.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Numa manhã de Domingo





encontro de bandas de música das Confrarias


e uma visita a uma exposição muito interessante sobre o património natural e a investigação científica no Parque natural de Doñana.

domingo, novembro 19, 2006

Este filme não é espanhol


mas é sobre Espanha, entre o século 18 e 19. É certo que são tomadas certas liberdades com a História e mesmo com a história: há certos aspectos no argumento que são pura e simplesmente incredíveis. Filhas da alta burguesia a serem torturadas pela Inquisição? Padres da Inquisição a serem torturados por famílias da alta burguesia? Padres caídos em desgraça tornados em ministros plenipotenciários de Napoleão? Exércitos ingleses (que entraram em Espanha pelo Norte de Portugal) a interceptar uma carreta de prostitutas deportadas de Madrid para as Américas (presumivelmente por Cadiz)?
Mas sempre é um filme de Milos Forman. As interpretações são razoáveis, os cenários e os figurinos impressionantes, a reconstituição de época credível. E é muito interessante o jogo regular que é feito entre a história e a cenografia e os quadros e gravuras de Goya, uma espécie de diálogo pintura/cinema bem conseguido.
Não é o melhor filme que já aqui vimos, mas deu para entreter numa tarde chuvosa a meio da semana.

sábado, novembro 18, 2006

Michel Camilo e Tomatito



E pronto, lá fizemos mais uma cruz na nossa lista de experiências sevilhanas. Desta vez assistimos a um espectáculo na Maestranza, e de flamenco, per supuesto. Não o flamenco mais tradicional, das guitarradas, dos uivos e das bailarinas, mas o nosso preferido, flamenco de fusão com jazz.
Michel Camilo é dominicano e pianista de jazz. Tomatito é andaluz e guitarrista de flamenco.Os dois juntos, tocando composições dos próprios, de Astor Piazolla e Chick Corea, entre outros, tornam-se numa experiência fascinante.
Não resultou realmente em todas as canções. Em alguns casos o piano afogou totalmente a guitarra, noutras parecia que estavam a tocar canções diferentes. Mas em alguns casos roçou o sublime. Sobretudo nas canções do mestre Piazolla. Piano e guitarra dialogavam entre si, desafiavam-se, competiam no virtuosismo. E com um ritmo contagiante, apaixonante, apaixonado. A certa altura estávamos a ver que as cordas iam dar de si.
O público estava exultante e tanto aplaudiu que teve direito a dois encores, ainda melhores que o concerto em si. É destas coisas que vamos ter saudades...

terça-feira, novembro 14, 2006

De tiendas 2


Encontrámos mais uma loja engraçada em Sevilha. Faz parte de uma cadeia de franchise mas por enquanto ainda não passou a fronteira. Mas devia. Fica na Calle Sierpes, uma das ruas mais movimentadas aqui do burgo, pedonal, recheada de lojas de ambos os lados e mais (é cruzada por umas quantas outras ruas e passagens também cheias de lojas).
A tienda em questão chama-se Afizonia e é dedicada ao lado lúdico da vida, mas de uma forma responsável e educativa. Tem brinquedos, puzzles, modelos de madeira de todos os tipos (casinhas, barcos, fortes, castelos), jogos científicos, quebra-cabeças, planetários, telescópios, livros infantis, jogos de sociedade tradicionais, caleidoscópios, bússulas, bonecos, caixas de música e um sem fim de outras curiosidades.
Parece-me que já temos onde comprar boa parte das prendas de Natal...

domingo, novembro 12, 2006

Hoje passou-nos uma procissão à porta



... que nos abriu o apetite para a Semana Santa. A imagem do andor quase que nos entrou pela casa adentro.

Sobre o trajar andaluz



De um e outro lado da fronteira há mais semelhanças que diferenças. Se há povo na Europa com que os tugas se pareçam, é com certeza o espanhol. Na fisionomia, na alimentação, na decoração das casas, nos maus hábitos, às vezes quase nos esquecemos que não estamos na nossa terra. Mas o diabo está nos detalhes e há pormenores que não nos passam despercebidos. O vestuário é um deles. À primeira vista, e graças à massificação das Zaras e companhia limitada, pouco distingue o trajar ibérico. Mas aqui (e talvez seja um fenómeno exclusivamente andaluz) três traços distintivos já nos saltaram à vista:
- as batas rocieiras - o que comummente se designa como traje de sevilhana não é aqui uma curiosidade de museu etnográfico mas sim uma peça indispensável no guarda-roupa de uma nativa (ou turista aculturada). Há dezenas de lojas que os vendem (a preços pouco convidativos), pelo que terá de haver procura para eles. Pelo que nos disseram, na semana da Feria não se vê outra coisa nas ruas, e tivemos ocasião de testemunhar que é uniforme feminino obrigatório durante a peregrinação ao Rocio. Não confundir todavia com as saias de baile flamenco. As faldas rocieiras parecem demasiado estreitas para dançar e pouco cómodas até para caminhar. Mas a giraldina está deserta de ter uma....
- os vestidos de festa - aqui os casamentos são de uma classe à parte (merecerão talvez um post futuro) e os vestidos das convidadas (e os fatos dos convidados) são um espanto. Talvez por culpa das omnipresentes revistas e programas do corazon, as sevilhanas vestem-se para os casamentos como se fossem aparecer numa passadeira vermelha de Hollywood. Cetins de todas as cores do arco-íris, cortes dignos das passarelas de Paris, adornos de cabeça exóticos, saltos agulha acima da dezena de centímetros, écharpes vaporosas, decotes profundos, maquilhagem profusa. Os acompanhantes chegam a levar fatos, gravatas e lenços a condizer, com as cores mais estapafúrdias imagináveis.
- o vestuário domingueiro - por aqui mantém-se a tradição de vestir-se para flanar na rua. Quer seja sexta à noite, sábado ou domingo o dia inteiro, é ver as famílias aperaltadas pelas ruas. Avô e avó, pai e mãe, filho e filha tiram do armário os melhores trapitos para ir de tiendas ou de tapas no bar da esquina. Vestidinhos elegantes ou saias e casacos a condizer para elas, chinos, camisa e pulover (geralmente de cores bizarras, uns rosa shoc, uns verde alface, uns fucsia berrante, uns amarelo limão) para eles. E o mais tenebroso é o que fazem às crianças. Rapazinhos vestidos à imagem do pai ou, pior ainda, à ideal-tipo dos anos cinquenta, de calções de bombazine, suspensórios, meias até ao joelho e sapatos castanho. As meninas usam vestidinho curto, igual ao da irmã, soquetes e sapatos, laçarote na cabeça. Parecem uns manequins de loja. Deve ser por isso que na adolescência se rebelam, cortam o cabelo à futebolista, fazem piercings e tatuagens, usam calças disformes que deixam ver a cor e marca da roupa interior, camisolas ridiculamente curtas que não escondem as panças barrigudas de demasiados hamburguers e bolycaos.
Precisamos no entanto de viajar mais por terras de Espanha para aferir até que ponto isto são especificidades andaluzas.