Primeiro as coisas más
Sim, fomos de fim de semana a Granada. E teve aspectos muito bons. Mas os giraldinos também têm razões de queixa e querem ventilar primeiro o fel, antes de de se desfazerem em elogios. Primeiro a viagem é longa e cansativa. O comboio leva três horas a atravessar a planura andaluza e sim, é bonito, mas às escuras (muito cedo de manhã ou muito tarde de tarde) não se vê nada. É impossível ler porque o comboio treme por todos os lados. Há um cheiro enjoativo a plástico e metal. Não há carruagem bar, que sempre dá para entreter. E ainda por cima é caro...
Depois também Granada foi afectada pela febre das obras (cheira-me a fundos estruturais), as avenidas principais estão intransitáveis, leva-se mais de meia hora a chegar ao centro a partir da estação de comboios, negociando um difícil caminho entre buracos, terra batida (ou lama), trémulos passadiços de madeira ou metal, lajes escorregadias. Mal se consegue apreciar os belíssimos prédios arte nova das avenidas (mesclados com uns horríveis mamarrachos de betão).
Para quem está habituado à horizontalidade de Sevilha, Granada é uma variação hostil. Subidas agrestes, descidas vertiginosas, pisos irregulares, de seixos pontiagudos, ameaçam a todo o momento a integridade física do caminhante. Mas de quem temos realmente pena é dos habitantes, que têm de fazer estes caminhos com os sacos das compras...
A rede de transportes públicos até é razoável, melhor que a de Sevilha. Até há uns mini-autocarros que servem as íngremes colinas do Alhambra e do Albaycin. Mas graças às obras há paragens suprimidas, não substituídas, que deixam ao utente a alternativa de sair numa paragem ou a 600 metros, na seguinte. Pouco amigável.
Mas para uma cidade com tanto património classificado como "da humanidade", é inadmissível o tratamento dado ao turista. Não há praticamente setas que indiquem a direcção dos principais monumentos. Não é dado qualquer mapa ou folheto aos visitantes do Alhambra. Os museus têm horários esdrúxulos: fecham ao início da tarde de Sábado sem qualquer justificação. A entrada para a catedral está oculta, uma pequena porta ao fundo de um minúsculo pátio gradeado, que nos levou uns 20 minutos a encontrar, dando sucessivas voltas ao edifício. Para entrar nas duas principais atracções da cidade, o Alhambra e o Parque das Ciências, há bichas intermináveis, mesmo para quem tem bilhetes comprados antecipadamente.
Finalmente, os hippies. Nenhum guia os menciona, mas Granada está realmente pejada deles. Grupos de jovens (e não tão jovens assim) andrajosos, acompanhados de matilhas de cães rafeiros, deambulam pelas ruas, vendem artesanato rasca, fumam charros em espaços públicos, ocupam o principal miradouro, dão um geral mau aspecto à cidade. Ao que parece muitas localidades dos montes da província estão ocupados por estas tribos alternativas. Talvez não haja aqui relação de causa-efeito, mas há uma série de cartazes pintados à mão no bairro de Albaycin que denunciam os "atracos" violentos e a insegurança generalizada.
E pronto, este post matiza um bocado os encómios à cidade que se vão seguir. Mas a vida é mesmo assim.
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