Sobre o trajar andaluz
De um e outro lado da fronteira há mais semelhanças que diferenças. Se há povo na Europa com que os tugas se pareçam, é com certeza o espanhol. Na fisionomia, na alimentação, na decoração das casas, nos maus hábitos, às vezes quase nos esquecemos que não estamos na nossa terra. Mas o diabo está nos detalhes e há pormenores que não nos passam despercebidos. O vestuário é um deles. À primeira vista, e graças à massificação das Zaras e companhia limitada, pouco distingue o trajar ibérico. Mas aqui (e talvez seja um fenómeno exclusivamente andaluz) três traços distintivos já nos saltaram à vista:
- as batas rocieiras - o que comummente se designa como traje de sevilhana não é aqui uma curiosidade de museu etnográfico mas sim uma peça indispensável no guarda-roupa de uma nativa (ou turista aculturada). Há dezenas de lojas que os vendem (a preços pouco convidativos), pelo que terá de haver procura para eles. Pelo que nos disseram, na semana da Feria não se vê outra coisa nas ruas, e tivemos ocasião de testemunhar que é uniforme feminino obrigatório durante a peregrinação ao Rocio. Não confundir todavia com as saias de baile flamenco. As faldas rocieiras parecem demasiado estreitas para dançar e pouco cómodas até para caminhar. Mas a giraldina está deserta de ter uma....
- os vestidos de festa - aqui os casamentos são de uma classe à parte (merecerão talvez um post futuro) e os vestidos das convidadas (e os fatos dos convidados) são um espanto. Talvez por culpa das omnipresentes revistas e programas do corazon, as sevilhanas vestem-se para os casamentos como se fossem aparecer numa passadeira vermelha de Hollywood. Cetins de todas as cores do arco-íris, cortes dignos das passarelas de Paris, adornos de cabeça exóticos, saltos agulha acima da dezena de centímetros, écharpes vaporosas, decotes profundos, maquilhagem profusa. Os acompanhantes chegam a levar fatos, gravatas e lenços a condizer, com as cores mais estapafúrdias imagináveis.
- o vestuário domingueiro - por aqui mantém-se a tradição de vestir-se para flanar na rua. Quer seja sexta à noite, sábado ou domingo o dia inteiro, é ver as famílias aperaltadas pelas ruas. Avô e avó, pai e mãe, filho e filha tiram do armário os melhores trapitos para ir de tiendas ou de tapas no bar da esquina. Vestidinhos elegantes ou saias e casacos a condizer para elas, chinos, camisa e pulover (geralmente de cores bizarras, uns rosa shoc, uns verde alface, uns fucsia berrante, uns amarelo limão) para eles. E o mais tenebroso é o que fazem às crianças. Rapazinhos vestidos à imagem do pai ou, pior ainda, à ideal-tipo dos anos cinquenta, de calções de bombazine, suspensórios, meias até ao joelho e sapatos castanho. As meninas usam vestidinho curto, igual ao da irmã, soquetes e sapatos, laçarote na cabeça. Parecem uns manequins de loja. Deve ser por isso que na adolescência se rebelam, cortam o cabelo à futebolista, fazem piercings e tatuagens, usam calças disformes que deixam ver a cor e marca da roupa interior, camisolas ridiculamente curtas que não escondem as panças barrigudas de demasiados hamburguers e bolycaos.
Precisamos no entanto de viajar mais por terras de Espanha para aferir até que ponto isto são especificidades andaluzas.
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