segunda-feira, julho 31, 2006

Noite Celta

Uma das vastas riquezas de Espanha assenta na sua enorme diversidade. O país é vasto e combina essa característica com uma grande diversidade de línguas, paisagens, culturas, gastronomias, etc. As noites musicais do Alcazár espelham essa mesma característica, já vimos concertos de música al-andalusí e interpetações contemporâneas de instrumentos tradicionais; já perdemos concertos de fusão entre tango e música brasileira e do sempre presente cante flamenco.
Ontem vimos um fantasticamente animado concerto de música celta por parte de uma (ou mais propriamente a junção de duas bandas galegas), os Síla Na Gig Y Rei Cintolo, que, através da música, nos transportaram para locais mais a Norte (Galiza, Irlanda, Bretanha e, com alguma boa vontade, certos sons do Minho e Trás-os-Montes).
Uma das curiosidades mais engraçadas dos excelentes músicos destas duas bandas era a espantosa facilidade com que alternavam instrumentos. O líder tanto tocava flauta transversal, como gaita de foles, como bombo. Um outro dividia-se entre a gaita de foles e a concertina.
Agora vamos fazer um intervalo na música de feição popular tradicional, pois já temos bilhetes para a Nona na Maestranza e aguardamos também por alguns concertos de inspiração mozartiana.

domingo, julho 30, 2006

O melhor jornal do mundo?






Quando me perguntam se tenho saudades da imprensa portuguesa, se comprei o Expresso na minha última viagem a terras lusas, se aqui se podem comprar jornais ou revistas tugas, só tenho vontade de rir. Quem é que quer saber da imprensa portuguesa quando se tem o El Pais? É certo que será um periódico um nadinha tendencioso de esquerda, mas é para compensar toda a outra prensa cujas portadas só tecem loas ao cretino do Mariano Rajoy e sus muchachos (um efeito perverso desta estadia é começar a entremear duas línguas no discurso... estamos feitos uns autênticos emigrantes...). O el Pais é um jornal à moda antiga. Tem muito texto. Muitas folhas, mesmo no Verão. Usa palavras compridas e construções frásicas elaboradas. Tem extensas crónicas escritas por comentadores políticos, académicos, escritores. Tem correspondentes em várias partes do mundo. Trata os assuntos em profundidade, com artigos que ocupam várias páginas.
Mas também é um jornal moderno. Tem bastantes fotografias e infografias. Tem pelo menos um suplemento aos dias de semana e vários ao fim de semana, incluíndo uma revista com
uma qualidade gráfica assinalável, com artigos que merece a pena ler e fotografias deslumbrantes. Tem um site na internet onde se encontra de tudo: para além dos artigos da versão impressa, notícias de última hora, páginas em pdf, um jornal gratuito (daqueles para ler no metro) descarregável, ficheiros multimédia (fotografias, pequenos vídeos, trailers de cinema), utilidades (meteorologia, trânsito, cartaz de espectáculos, televisão), foruns de discussão e um arquivo de todas as edições desde a fundação (ok, este serviço é restrito aos subscritores ou pago). Não admira que tenha recebido o prémio EPPY para melhor diário digital.
Mas é mais que um jornal, é uma autêntica loja de chineses. Com o jornal vende-se tudo: colecções de DVDs com filmes ou séries de televisão, cursos de línguas, livros infantis, impressoras, máquinas fotográficas digitais, vinhos. Agora assinando o jornal por um ano recebe-se uma máquina de filmar digital. Se não fosse os 400 euros que teríamos de desembolsar, até estaríamos tentados...

Fim de semana caseiro

Depois de tantas andanças durante a semana, optámos por um fim de semana caseiro. E de bricolage. Finalmente acabou-se o último caixote da mudança e a nossa casota já tem um ar mais acolhedor e arrumado. Fomos ao IKEA comprar uma muito necessária estante de livros...














Depois apaixonámo-nos por uma odorífica figueira e decidimos adicioná-la à nossa família...
Vamos esperar que cresça para ver se dá figos.
Só que com tantas mudanças e arrumações ficou vazio o espaço em cima do frigorífico, o que foi logo aproveitado pelo felpudo de quatro patas...
















Depois também já saltou para o friso em cima dos armários da cozinha. Só espero que não lhe dê para passear pela prateleira em cima da televisão, cuja solidez deixa muito a desejar...

quinta-feira, julho 27, 2006

Uma descoberta


Flamenco com um toque jazístico (ou de música contemporânea, não nos conseguimos decidir) tocado ao piano. Inusual. Recomendamos.

Fim da festa

E pronto, lá acabou a Velá. Contrariamente às expectativas dos giraldinos, estes amigos da paródia não prolongaram as festividades até ao fim de semana. Ontem, dia de Santa Ana, fizeram-se as últimas comezainas, cantaram-se as últimas flamencadas e lançaram-se os (primeiros e) últimos foguetes. Os giraldinos foram assistir à cucaña ao fim da tarde (mas não acharam grande piada aos bandos de rapazes entregues à fútil tarefa de apanhar uma bandeira no final de um poste ensebado na proa de uma barcaça) e ao fogo de artifício à meia noite. Bonito, sim senhor, mas em nada superior (bem pelo contrário) ao espectáculo piro-musical que todos os anos encerra as Festas do Nosso Senhor Jesus dos Navegantes na humilde e suburbana vila de Paço de Arcos. Será que a giraldina está a ficar com saudades da terrinha?

quarta-feira, julho 26, 2006

Beijamão a Santa Ana


Fiéis à nossa missão etnográfica, ontem fomos assistir aos Gozos de Señora Santa Ana, parte das festividades dedicadas à santa do mesmo nome. À meia noite, na igreja desta padroeira (algures no meio do bairro de Triana), a partir da torre toda engalanada e iluminada com cores diferentes, a 'Banda de Cornetas y Tambores del Santissimo Cristo de las Tres Caídas' da Hermandad de la Esperanza de Triana toca uma curta peça musical, repetida umas tantas vezes. Depois os sinos tocam a repique e abrem-se as portas, para entrar a congregação.
Lá dentro, um bizarro espectáculo nos esperava: na capela mor, em frenta ao altar, sentadas em duas cadeiras, duas santas de tamanho natural, faustosamente vestidas, aguardavam os fiéis. Segundo o programa, seguir-se-ia uma série de actos litúrgicos, cânticos e no final um beijamão. Confesso que os giraldinos perderam a paciência a meio e foram para casa. Mas também vimos muitos nativos a fazer o mesmo...

terça-feira, julho 25, 2006

Corazón, corazón

O modo de vida simbioticamente tripartido entre público, meios de comunicação social e personagens do Jet Set em Espanha tem uma tradição bem mais longa e diversa do que a relativemente recente atenção que lhe é conferida em Portugal. O atavismo português e a consequente multiplicação jet set de baixa extracção e de "tios" de classe média baixa ainda possibilita algum sucesso comercial e notoriedade a este mercado comunicacional e respectivos actores.
Em Espanha a situação é diferente. Verifica-se ainda alguma reverência pela Família Real e por um ou outro notável mas o resto do jet set não passa de um mero produto comunicacional. Basta ver o modo como as cantadeiras como Sarita Montiel, Isabel Pantoja e a recentemente falecida Rocio Jurado são pasto para o mais desbragado voyeurismo cínico por parte de todos os canais espanhóis (porque cada um tem, pelo menos, um programa diário deste género).
A reportagem da moda assenta no estímulo aos conflitos galinácios entre cantadeiras de facies inchado como se nesse momento transpusessem a porta da Corporación Dermoestética, aos gritos a propósito de tricas deselegantes e desqualificadores de todas elas. Outro tipo de reportagem em voga é a que é efectuada à porta do cárcere. Com tanto jet set menor envolvido na Operação Marbella (com inúmeros ex-alcaldes e ex-concejales [36] encarcerados à conta da corrupção imobiliária em Marbella), todos os dias vemos repórteres de vários canais a relatar as últimas notícias, tendo este tipo de reportagens passado a ser lugar comum. Resta dizer que toda esta gente detinha ocupações muito pouco recomendáveis antes de ascender ao jet set. O ex-alcalde de Marbella (noivo, marido ou coisa que o valha de Isabel Pantoja) não passava de um porteiro de discoteca antes de ter sido convidado para a vereação de Marbella por Gil y Gil (esse mesmo, o amigo de Paulo Futre). A ex-alcaldeza, que o substituiu após a sua destituição, também está encarcerada por motivos idênticos. Hoje foi acintosamente referida nestes programas a propósito da sua reclamação acerca da permanente ausência da mulher da limpeza na sua cela.
Estou mesmo a ouvir algumas pessoas conhecidas em Portugal: Aquilo lá ainda é pior do que cá, no respeitante à corrupção nas autarquias face a negócios imobiliários. Se é ou não não sei. Mas alguns autarcas estão na cadeia a aguardar o desenvolvimento do processo que contra eles é movido pelas autoridades responsáveis. Lembram-se de algum caso semelhante em Portugal?

segunda-feira, julho 24, 2006

E pronto, mais uma festança


Começou este fim de semana a Velá de Santiago e Santa Ana. É o que mais parecido há aqui aos santos populares. Do outro lado do rio, em Triana, organizam-se anualmente estas festas em honra dos santos padroeiros. A ponte e as ruas principais são engalanadas com luzes coloridas, balões e arcos. Ao longo da Calle Betis há casetas com comida (ecumenicamente geridas por partidos políticos, clubes desportivos, sindicatos e as omnipresentes irmandades), carrosséis para as crianças, barracas com sorteios e tirinho umas tendas com bugigangas. No largo junto à ponte há um palco onde todas as noites se realizam concertos ou concursos de sevilhanas. Depois há provas desportivas e eventos religiosos, para além de um concurso diário de subida ao mastro ensebado. No último dia haverá fogo de artifício.
Ontem fomos dar uma vista de olhos e ficámos com ideia de voltar para provar os petiscos e observar as festividades. Por isso havemos de voltar a este assunto...

domingo, julho 23, 2006

Música para manivelas


Mais uma noite de concerto nos jardins do Alcazar. O programa prometia: com o enigmático nome que titula este post, era anunciado um artista em palco que tocava sanfona, caixa de música e orgão de barbárie (vulgo realejo). A giraldina é grande fã deste tipo de música tradicional. E já estava a afiar o dente para um concerto memorável. Pois. Sairam-lhe as contas furadas. Afinal era uma interpretação pós-moderna destes instrumentos, de tipo minimal repetitivo. O giraldino ficou deliciado, a giraldina decepcionada. Mas o concerto teve aspectos positivos. A sanfona é um instrumento fascinante, capaz de produzir uns sons muito diversificados e hipnóticos. Algumas composições (que não as do intérprete) até eram assaz agradáveis. Mas o melhor era o entretenimento entre canções. O músico, German Diaz, ia contando piadas que levavam o público (bem numeroso, como sempre) às lágrimas. Afinal foi uma noite bem passada.

quarta-feira, julho 19, 2006

Boa comida 3

Sevilha é um autêntico paraíso para os entusiastas do tapeo. E descobrir bons bares de tapas tornou-se umas das nossas empenhadas missões cá no burgo. O último que experimentámos e merece distinção é o Bar Europa.Fica muito bem situado, por trás da Igreja do Salvador. Tem uma esplanada provavelmente agradável nos dias menos quentes. Os 40 do dia em que lá fomos recomendavam o interior com ar condicionado. Pedimos três singelas tapas: crepe de Roquefort, patê de perdiz e quesadilla de queijo de cabra gratinada sobre uma cama de fatias de maçã granny smith, acompanhada de cerejas. Esta última tapa ganhou o prémio da tapa inovadora no concurso de tapas sevilhanas deste ano.

Era excelente, mas penso que nada bate o cremoso e especialíssimo patê de perdiz ou o perfume intenso do crepe de Roquefort. Por último, e mais uma vez, o pessoal era profissional e simpático como é a regra nesta cidade. Não sei o que vos faz esperar por uma visita.

Objectos de Sevilha


Este por acaso deveria estar num post intitulado "objectos indispensáveis em Sevilha". Porque aqui o abanico é parte da indumentária local, tanto masculina como feminina, para aí a partir de Abril. E não é uma questão de moda, é mesmo necessidade. E até deu azo à criação de um verbo: abanicar. Porque se na maioria dos locais (casas, lojas, escritórios) há ar condicionado, fora de portas não há cá esses luxos e não podemos contar apenas com o Guadalquivir para proporcionar uma brisa fresca. Por isso nas paragens de autocarro, nos jardins, nas esplanadas, à janela, sevilhano que se preze está sempre acompanhado do seu abanico. E faz uso dele com convicção.
Depois há todo o peso económico deste artefacto. Não abundam aqui os abanicos made in China, de plástico e tecido sintético. Não, o abanico sevilhano é feito de madeira e linho, pintado à mão, vendido em lojas de especialidade ou no incontornável Corte Ingles. E há para todos os gostos, em dimensões variadas e todas as cores do arco-íris.
E há, claro está, a dimensão simbólica. O abanico da Carmen, o acessório por excelência da femme fatale hispânica, que serve para esconder a metade inferior do rosto e concentrar toda a sedução na expressividade dos olhos... Mas devaneio.
Este é o meu leque. Pequenino para caber na mala, azul porque é a minha cor preferida, uma prenda acarinhada do meu estimado giraldino.

segunda-feira, julho 17, 2006

Mediterrâneo

Ontem, numa noite cálida (estavam cerca de 30 graus) fomos ver um concerto nocturno nos Jardins do Real Alcázar. Foi uma experiência inolvidável. A mescla entre as sonoridades al-andalusas tocadas pelos Chekara, a noite quente, o céu estrelado e o aroma a flor de laranjeira retrata fielmente tudo o que Sevilha nos pode proporcionar.
Os sons produzidos pelo alaúde, a cítara, o violino, a percussão e as belíssimas vozes entoando tradicionais canções al-andalusas transportam-nos imediatamente para o espaço mediterrânico de encontro de culturas de que Sevilha é um extraordinário exemplo. Só quem nunca ouviu esta música não se recordou imediatamente do Flamenco e do Fado enquanto expressões musicais fruto deste mesmo espaço de confluência entre a Europa, o Norte de África e o Próximo Oriente.
Em Sevilha esta proximidade cultiva-se, o que não acontece noutras realidades peninsulares.

domingo, julho 16, 2006

Reales Atarazanas


Já aqui se disse que Sevilha tem uma vida cultural intensa. Mas o que também é curioso é a diversidade de espaços que são usados para múltiplas actividades. Festivais de documentários em conventos, cinema ao ar livre no pátio da universidade, exposições em igrejas, concertos de música clássica em jardins e na praça de touros. A fotografia aqui ao lado é dos Reales Atarazanas, os antigos estaleiros de contrução naval. São uns edifícios enormes, mantidos num estado de semi-recuperação, com o piso em terra batida e pombos que vivem nas arcadas. Há umas semanas vimos lá uma belíssima exposição sobre as similitudes entre os dois lados do estreito de Gibraltar. Agora a giraldina está a tentar convencer o giraldino a ir ver no mesmo local uma peça de teatro clássico, La vida es sueño, de Calderon de La Barca.

sábado, julho 15, 2006

Mês e meio aqui e já tivemos de chamar os bombeiros...

Hoje tivemos uma aventura. Meio sonolentos e entorpecidos com o calor, saímos de casa para ir ao mercado e deixámos a chave na fechadura. Do lado de dentro, claro. Socorrendo-nos do facto que a nossa senhoria vive na mesma rua, interrompemos-lhe o sossego matinal para nos vir trazer a chave sobressalente. Mas claro que as fechaduras não abrem com duas chaves inseridas. Seguiu-se um périplo pelas lojas da vizinhança em busca de uma escada para invadirmos a nossa própria casa de janela. Foi infrutífero. O escadote mais alto ainda ficava a uns bons metros da varanda.
Foi então que a giraldina avistou um carro da polícia e o giraldino usou dos seus dotes linguísticos para explicar o problema ao cívico. Este foi muito prestável e solicitou a presença dos bombeiros, avisando-nos que teríamos de pagar o serviço. Pouco tempo depois chega o carro dos bombeiros, com meia dúzia de latagões de botas cardadas e capacete reluzente. Isto aqui só pode ser bombeiro quem tem pelo menos 1 metro e noventa e um corpanzil de atleta. Não há cá os patuscos voluntários barrigudos de bigode...
Em menos de cinco minutos os valorosos rapazes enconstaram uma escada à varanda, empurraram a porta da varanda e entregaram as chaves de casa aos giraldinos. O gato é que se assustou de ver entrar pela casa adentro uma trupe de indivíduos uniformizados e escondeu-se debaixo da cama. Mas já está recuperado da provação e de volta aos bons velhos hábitos das sestas prolongadas.
Agora nós estamos à espera da conta...

terça-feira, julho 11, 2006

Boa Comida 2


Aceitunas, cañas de lomo ou jamón, tortilla e quejandos?
Deixem-se disso e venham à Giralda provar algumas das melhores tapas sevilhanas.
Situa-se à entrada do Bairro de Santa Cruz, muito perto da Torre que o baptizou. Pode-se dizer que é uma localização improvável para um bom restaurante, sendo um local mais propício para estabelecimentos do tipo "esfola turista", contudo, tal característica só o beneficia.
Como se trata de uma antiga localização de banhos árabes é revestido por belos azulejos e arquitectura de interiores mudejar. Mas vamos ao que nos trouxe aqui...
As tapas variam entre o tradicional da cozinha sevilhana e a aproximação à cozinha internacional (boquerones fritos, solomillo al whiskey e Camembert frito temperado com mel), mas têm sempre um toque de inovação e sofisticação que lhes confere um charme e sabor extra.
É provar o Magret de Pato, as Patatas D. Miguel, A Tosta de Chèvre entre outras iguarias. Até os langostinos al ajo têm algo de especial, ao serem cobertos de molho bechamel e posteriormente gratinados. Para a próxima ida reservo a prova das conquilhas...
Para finalizar... ainda por cima é barato: as tapas rondam os 2-3 euros. Duas pessoas conseguem fazer uma boa refeição por menos de 20 euros. Resta ainda acrescentar que o pessoal é competente e simpático o que torna tudo ainda mais improvável.

Quarenta e ...?


Há dias assim. Os últimos têm sido quentes mas felizmente ainda não chegaram a este ponto.
Devo dizer que viver em Sevilha obriga-nos a pensar e a sentir os dias de calor de uma outra forma. É como se o calor extremo se relativizasse tendo em conta a possibilidade de que este se intensifique ainda mais. 42 graus ao atravessar a Ponte do Cachorro? Nem parecia, diria que não passava dos 35.
Damos por nós, sem nos apercebermos, a seguir sábias estratégias desenvolvidas pelos povos que por aqui habitaram durante séculos:
Andar na rua entre a uma e as seis da tarde? "Only mad dogs and englishmen"; Esperar pelo sinal verde para atravessar a rua? Só uns metros atrás, resguardado pela sombra de uma árvore, de um prédio vizinho ou mesmo de um poste ou placa de trânsito; Andar sempre pela sombra, muita vezes praticamente colado à parede - quem não anda assim ou é louco ou não é sevilhano.
E depois.... Entupir-se de líquidos: Água ou Aquarius na versão sóbria; cerveja, tinto de verano (a velha fórmula tinto + gasosa) ou sangria na versão festiva popularucha; ou um vinho branco seco ou cocktails numa versão mais requintada.
O que interessa fundamentalmente é a protecção do sol e do calor, acompanhada de uma refrescante bebida mais ou menos etilizada consoante a hora e a disposição.

segunda-feira, julho 10, 2006

Domingo cultural


Aqui já começa a estar calorzinho. Mas como só aperta lá mais para a tarde, os Domingos de manhã são bons para dar umas voltinhas. Ontem fomos então ao Museu de Belas Artes, que é aqui ao virar da esquina (uma das coisas que eu adoro em morar aqui é como tudo está ao alcance de um passeiozinho a pé), ver a colecção principal e a exposição temporária com as obras primas de um museu napolitano. Aqui o museu sevilhano não é aconselhável a alérgicos a arte sacra. Mas é extraordinário. Para já é enorme. Salas e mais salas, corredores, escadarias, repletas de quadros. Depois o próprio edifício (talvez o plural fosse mais indicado, porque o museu ocupa vários antigos conventos) é magnífico, com vários pátios ajardinados, painéis de aulejos, tectos mudejares em madeira. Até uma das antigas igrejas é usada como sala de exposição, com os quadros de maior dimensão a par de coloridos frescos nas colunas e na cúpula. Deslumbrante.
Ao Domingo há ainda um atractivo adicional: no largo em frente uma dezenas de artistas expõe as suas obras para serem adquiridas pelos amantes de arte. E há alguns quadros realmente interessantes.
Uma outra constatação: o museu estava cheio de gente. Está bem que Sevilha é uma cidade turística e que a entrada é grátis para cidadãos europeus. Mas a exposição temporária estava a abarrotar de autóctenes. Modéstia à parte, conheço bem os museus portugueses e garanto que não há comparação possível... Isto é mesmo um outro nível de civilização...

sábado, julho 08, 2006

Cidade de costas para o rio

Parece incrível mas é verdade. Uma das mais valias de Sevilha é certamente o seu rio. O plácido e verde Guadalquivir atravessa a cidade, corta-a ao meio, refresca-a, proporciona umas vistas espantosas, foi responsável pela sua continuada prosperidade ao longo dos séculos, dá-lhe peixe (comestível), serve de casa a bandos de patos e ainda fornece condições excepcionais para os despostos náuticos. Mas a cidade vira-lhe as costas. Só em Triana é que se abeira decididamente da margem, com casas e restaurantes quase de pés dentro de água. Na Cartuja a beira rio está ocupada por um extenso bosque selvagem, só ocasionalmente entrecortado com uns vestígios da Expo, edifícios enormes e bizarros, semi-abandonados (excepção feita ao centro de alto rendimento desportivo lá mais para perto da ponte da Barqueta). Na margem oposta, o centro da cidade dista umas boas centenas de metros do rio, ocupados por uma espécie de via rápida de três faixas para cada lado (o Torneo), mais uns larguíssimos passeios com árvores frondosas, mais uns tantos vestígios ferrugentos da exposição universal (o teleférico e respectiva estação), mais uns terrenos baldios com vegetação, até se chegar ao Passeio Rei Juan Carlos I. Apesar de muito concorrido, está longe de ser um espaço acarinhado pela cidade. Ao longo dos seus vários quilómetros de extensão não há uma única esplanada, um café, um parque infantil, uma barraca de gelados, nem mesmo sequer uns bancos para descansar. Paredes cheias de graffiti, edifícios em ruína, passeios e escadarias mal cuidados estragam o que poderia ser um lugar aprazível. Na outra direcção, o Molhe do Sal também tem pouco que se veja, sem ser a vista da Calle Betis do outro lado da água. Há um clube naútico, um barco-bar que aluga gaivotas e o cais de onde partem os ruidosos cruzeiros fluviais. Há entre o Passeio e o Molhe uma extensão arborizada que alguns locais usam como uma espécie de praia e onde os jovens de lambreta se reúnem.
É estranho. Eu pensava que com este clima inclemente haveria uma ampla escolha de esplanadas onde passar as quentes noites de Verão. Estava enganada. Ainda só encontrámos uma que vale a visita e é merecedora de um post próprio. Enfim... não se pode ter tudo...

sexta-feira, julho 07, 2006

San Fermin


Já aqui foi dito vezes sem conta que esta gente adora uma festa. E esta é das mais conhecidas, concorridas e populares no mundo inteiro. Aqui tem honras de transmissão em directo na televisão nacional, uma dezena de anúncios alusivos nos intervalos (e este é hilariante), um website, merchadising... Há feridos todos os anos, mortos uma vez por outra, manifestações de repúdio por parte dos defensores dos animais. Mas mesmo assim vem gente de todo o mundo para durante 9 dias usar o lenço vermelho ao pescoço e correr à frente de uma manada de touros ao longo de estreitas ruas calcetadas e sinuosas. Eu acho que há coisas mais sensatas para se fazer nos quentes dias do Verão espanhol mas lá que é um espectáculo extraordinário...

terça-feira, julho 04, 2006

Horchata







Confesso que o aspecto a princípio me repugnou: parece leite. E que o sabor também não me agradou, um tanto enjoativo. Mas é como o slogan da Coca-Cola inventado (putativamente) pelo Fernando Pessoa: primeiro estranha-se, depois entranha-se. E é o que me aconteceu com a horchata. É uma bebida muito comum cá na terra, de origem árabe, produzida na região de Valência, que se bebe sobretudo no Verão. Sabe a amêndoas, mas é feita com chufa, que é um tipo de semente. Leva água e não leite. E é suposto ter muitas virtudes nutricionais: anti-oxidante, anti-colestrol mau, com vitamina E, sais minerais e ácido oleico, benéfica para os sistemas digestivo e cardiovascular. E até é própria para diabéticos. Sou fã.

domingo, julho 02, 2006

De manhã passeio à beira do Guadalquivir


à tarde molenguice em casa.

Guadalquivír




Sevilha é uma cidade de pontes. O crescimento urbano nas duas margens e o advento da Expo 92 implicaram o alargamento do número de passagens entre estas.

Esta é a de Triana. Não só é a mais bonita como a que liga alguns dos dos pontos mais interessantes desta zona. Estabelece a continuidade entre a calle São Jacinto (Triana) e a dos Reyes Católicos, bem próxima da nossa casa. Na sua cercania figuram ainda o Molhe do Sal e uma zona ajardinada à beira-rio, na margem sevilhana, e a nóctivaga calle Bétis e o Mercado de Triana na marqem esquerda do rio.

Este tranquilo rio possibilita ainda outras actividades para além dos passeios a pé ou de bicicleta junto às suas margens. As preferidas dos sevilhanos parecem ser a prática de remo ou canoagem (mesmo na mais tenra idade) e a pesca. Hoje realizava-se uma competição de pesca desportiva no Guadalquivír à qual acorreram centenas de desportistas e curiosos.


Contudo, há aspectos em que os sevilhanos parecem viver de costas para o rio. Mas tal tema será objecto de um post próximo.

sábado, julho 01, 2006

A pedido de alguns fans


A giraldina já tinha aparecido. E aqui está o giraldino junto a uma fonte no bairro de Santa Cruz.

Boa comida 1


Ok, há a catedral, o bairro de Santa Cruz e a arte mudéjar. Mas uma das razões para visitar Sevilha é sem dúvida a comida. Os andaluzes reclamam ser os inventores das tapas. Não sei de quem é a paternidade desta prática gastronómica mas bem haja. É certo que as há indigestas, gordurosas ou mesmo repugnantes. Mas quando são boas... são irresistíveis. Por isso vamos partilhar com os amáveis leitores as nossas experiências pantagruélicas na bela Hispalis. E a primeira menção vai para um sítio bastante original. Chama-se La Leyenda e é o bar de tapas do chique Hotele Bécquer, a 2 quarteirões da nossa humilde morada. Tem uma esplanada permanente cheia (geralmente a média de idades dos comensais ronda os 75 anos...), uma sala pequena em estilo arte nova e um menu de tapas nouvelle cuisine. São na verdade mais pequenos pratos que tapas e o preço reflecte isso. As propostas são muitas e cada uma mais bizarra que a anterior. De cabeça só me lembro do magret de pato com couscous aromatizados com mel, coração de alcachofra gratinado, recheado com carne de vaca, espetada de camarões com arroz cremoso, salada de canónigos com queijo de cabra e um fio de mel, pastel de camarão, bacon e queijo provolone frito, rolo de vitela... E há muito mais, uns 30 pratos divididos entre entradas frias, entradas quentes, carne e peixe mas quase tudo ao mesmo preço de 5 euros. E a comida é deliciosa. Exótica, inesperada, mas muito bem confeccionada. A cozinha é rápida e o pessoal simpático mesmo para os pés rapados como nós que partilham os pratos. Uma palavra ainda para as sobremesas. Os giraldinos não são grande apreciadores de doces, mas estes valem realmente a pena. Crepes com gelado, bolo de chocolate com creme de menta, lascas de ananás com sorvete de limão e xarope de açafrão... Huummmm....

Veículo de tracção animal


Isto em Portugal é uma coisa de velhas. Mas aqui TODA a gente tem. E a razão é simples. É realmente prático. Numa cidade plana, com bons passeios, onde é quase impossível usar o carro com comodidade (não há onde estacionar sem pagar, mal se pode parar em ruas estreitas, os sentidos únicos duplicam as distâncias a percorrer) e os preços e produtos nos mercados são apetecíveis, estes carros são indispensáveis. Hoje fomos fazer o test-drive ao nosso no mercado de Triana. O do Arenal é mais perto, mas mais caros e com menos escolha. O de Triana é grande, amplo, bem organizado e com ar condicionado (hoje não era realmente necessário). Valeu bem a pena atravessar o rio. Enchemos o carro com fruta, legumes, pão, ovos e caracóis. E o jornal. Numa hora estavam as compras feitas, incluíndo o passeio de ida e volta.
E aqui também se usam estes carros nos supermercados. Junto as cacifos há geralmente umas correntes onde ficam presos enquanto os donos recolhem as compras com os cestos do costume.
Estes carros protegem também a saúde e o meio ambiente. Faz-se menos esforço que ao transportar pesos nas mãos e poupa-se nos sacos de plástico. E até há modelos que têm cadeiras acopladas para tornar menos penosa a espera nas filas do mercado...