Cidade de costas para o rio
Parece incrível mas é verdade. Uma das mais valias de Sevilha é certamente o seu rio. O plácido e verde Guadalquivir atravessa a cidade, corta-a ao meio, refresca-a, proporciona umas vistas espantosas, foi responsável pela sua continuada prosperidade ao longo dos séculos, dá-lhe peixe (comestível), serve de casa a bandos de patos e ainda fornece condições excepcionais para os despostos náuticos. Mas a cidade vira-lhe as costas. Só em Triana é que se abeira decididamente da margem, com casas e restaurantes quase de pés dentro de água. Na Cartuja a beira rio está ocupada por um extenso bosque selvagem, só ocasionalmente entrecortado com uns vestígios da Expo, edifícios enormes e bizarros, semi-abandonados (excepção feita ao centro de alto rendimento desportivo lá mais para perto da ponte da Barqueta). Na margem oposta, o centro da cidade dista umas boas centenas de metros do rio, ocupados por uma espécie de via rápida de três faixas para cada lado (o Torneo), mais uns larguíssimos passeios com árvores frondosas, mais uns tantos vestígios ferrugentos da exposição universal (o teleférico e respectiva estação), mais uns terrenos baldios com vegetação, até se chegar ao Passeio Rei Juan Carlos I. Apesar de muito concorrido, está longe de ser um espaço acarinhado pela cidade. Ao longo dos seus vários quilómetros de extensão não há uma única esplanada, um café, um parque infantil, uma barraca de gelados, nem mesmo sequer uns bancos para descansar. Paredes cheias de graffiti, edifícios em ruína, passeios e escadarias mal cuidados estragam o que poderia ser um lugar aprazível. Na outra direcção, o Molhe do Sal também tem pouco que se veja, sem ser a vista da Calle Betis do outro lado da água. Há um clube naútico, um barco-bar que aluga gaivotas e o cais de onde partem os ruidosos cruzeiros fluviais. Há entre o Passeio e o Molhe uma extensão arborizada que alguns locais usam como uma espécie de praia e onde os jovens de lambreta se reúnem.
É estranho. Eu pensava que com este clima inclemente haveria uma ampla escolha de esplanadas onde passar as quentes noites de Verão. Estava enganada. Ainda só encontrámos uma que vale a visita e é merecedora de um post próprio. Enfim... não se pode ter tudo...
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